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Excesso de liquidez dos bancos ainda mantém juros dos depósitos baixos

Excesso de liquidez dos bancos ainda mantém juros dos depósitos baixos

A subida das taxas diretoras pelo Banco Central Europeu (como mecanismo para combater a inflação) tem feito subir as taxas Euribor, o que agrava as prestações dos créditos indexados à Euribor, mas também seria expectável que fizesse subir a remuneração dos depósitos bancários.

Contudo, para já, a subida dos juros dos depósitos continua muito contida, sobretudo nos principais bancos (há instituições mais pequenas com retornos mais elevados), o que perante a inflação elevada e os custos das comissões bancárias significa uma perda real efetiva do dinheiro depositado.

Segundo dados do Banco de Portugal, em dezembro, a taxa de juro dos novos depósitos em Portugal foi a mais baixa da zona euro, de 0,35%, bem abaixo dos 1,44% da média da zona euro. Em França e Itália as taxas estão já acima de 2% e mesmo em Espanha (país com forte presença de grupos bancários em Portugal) a taxa média era de 0,64%.

Para o economista António Nogueira Leite, a contribuir para isto está o facto de os bancos terem elevada liquidez e a política cautelosa de crédito nos últimos anos.

“Ao contrário do que acontecia em 2011 e em anos anteriores e seguintes, os bancos têm imensa liquidez e, numa perspetiva de maximização dos seus resultados, o que faz mais sentido é pagar menos aos depositantes do que seria a expectativa destes”, afirmou o antigo vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (2011-2013), secretário de Estado do Tesouro e das Finanças no último governo socialista de António Guterres e conselheiro económico de Passos Coelho (PSD).

A CGD é um dos ‘faróis’ do mercado e uma atitude diferente do banco público teria grande influência, contudo, também aí os juros dos depósitos continuam baixos. “Pelo acordo feito com a Direção-Geral da Concorrência [da Comissão Europeia], a CGD comporta-se como os outros, como entidade privada maximizadora de lucro. Noutra situação daria outra indicação ao mercado”, explicou Nogueira Leite.

Os clientes em Portugal são em geral pouco dinâmicos na procura de melhores produtos financeiros, pelo que os bancos estão confortáveis mesmo dando baixa remuneração. O montante dos novos depósitos a prazo dos particulares ascendeu em 2022 a 49.393 milhões de euros (43.016 milhões de 2021).

Na conferência de imprensa de apresentação das contas de 2022, o presidente do Santander Totta (o banco teve lucros de 568,5 milhões de euros), Pedro Castro e Almeida, considerou normal que demore a subida dos juros dos depósitos porque “as taxas subiram muito depressa” e recordou que “há alternativas em Portugal” entre produtos considerados de baixo risco e com garantia de capital investido.

“Olhem para os certificados de aforro”, disse.

Castro e Almeida afirmou que o tema da poupança é dos 10% mais ricos, pois o resto das pessoas tem poucas poupanças.

Por seu lado, o presidente executivo do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, disse que não quer que os clientes tirem as poupanças do banco para os certificados de aforro e criticou a alta remuneração que o Estado atribui neste produto.

“Não seria necessário Estado pagar tanto, mas entendo o incentivo para a poupança”, afirmou o responsável do BPI na conferência de imprensa dos resultados anuais (lucros de 365 milhões de euros em 2022).

Para Ricardo Cabral, professor de Economia do ISEG, entre os grandes bancos “há um acordo de cavalheiros para não correrem de forma agressiva pelos depósitos”, mas considerou que os bancos começam a ter um grande incentivo para ir buscar mais depósitos e já começam a aliciar grandes depositantes.

Isto porque o excesso de liquidez que cada banco põe no BCE já rende 2,5% de juros (valor da taxa de juros dos depósitos atual). Assim, com depósitos remunerados praticamente a zero e dinheiro a render no BCE os bancos sem fazer nada ganham milhões em margem financeira. “É negócio sem risco”, vincou.

Sobre a crítica dos banqueiros à remuneração dos certificados de aforro, Ricardo Cabral recordou que há décadas que o Estado se financia no retalho e “não está cá para conceder favores à banca”, logo, deve dar remuneração que considere adequada.

Em 2022, segundo o IGCP, do total de dívida direta do Estado (287 mil milhões de euros) cerca de 12% estava em certificados de aforro e certificados do tesouro, uma proporção que se tem mantido estável nos últimos anos.

Apenas em dezembro, segundo dados do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, as entradas de dinheiro em certificados de aforro foram de 1.994 milhões de euros (acima dos 1.764 milhões de euros de novembro). Já as saídas (amortizações) foram de 78 milhões de euros, ascendendo o saldo dos certificados de aforro a 19.626 milhões de euros em 31 de dezembro (o valor mais elevado desde pelo menos 2006).

Segundo relatos feitos à Lusa, a elevada adesão faz com que em muitos postos de correio os cidadãos enfrentem grandes esperas para fazerem aplicações em certificados de aforro.

Esta semana, em audição no parlamento, o IGCP disse que quer alargar a rede de distribuição destes produtos, até para reduzir o custos com os CTT, estando a estudar outras vias. Sobre uma eventual distribuição pelos bancos, Miguel Martín disse que, ao contrário de outros países da zona euro, em Portugal “a banca não está interessada porque entende que canibaliza os seus depósitos”.

Segundo o IGCP, em fevereiro, as novas subscrições de certificados de aforro contam com uma taxa de juro de 3,403% bruta. Deverá chegar ao valor máximo de 3,5% em março.

Leia Também: Peso dos depósitos à ordem de particulares aumenta em 2022

Fonte :  Notícias ao Minuto – Última Hora 

 

11 Fevereiro 2023

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