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Embaixadora de Portugal na Rússia em homenagem a vítimas da repressão

Embaixadora de Portugal na Rússia em homenagem a vítimas da repressão

O dia de homenagem às vítimas da repressão política na Rússia foi marcado na segunda-feira com ações neste país, onde a perseguição judicial a ativistas tem vindo a acentuar-se, e também no estrangeiro.

Na Rússia, os opositores russos presos cumpriram um dia de greve de fome para assinalar a data.

Os diplomatas europeus “homenagearam a memória das vítimas da repressão política soviética, depositando flores junto da Pedra Solovetski” no domingo, refere uma publicação da embaixada portuguesa na Rússia nas redes sociais.

O local da homenagem dos diplomatas europeus situa-se na Praça Lubyanka, no ‘coração’ de Moscovo em frente da antiga sede da KGB soviético e, atualmente, do FSB, os serviços de segurança russos.

A rocha, trazida de um ‘gulag’ [campo de concentração para prisioneiros políticos] localizado num arquipélago do Mar Branco, foi ali colocada em outubro de 1990, para lembrar o sofrimento por que passaram os adversários do regime estalinista.

À cerimónia juntaram-se também cidadãos que se manifestaram contra a guerra na Ucrânia, segundo os media russos.

No domingo, foram lidos os nomes das pessoas executadas entre 1936 e 1938, homenagem organizada todos os anos pela Organização Não Governamental (ONG) Memorial, co-vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2022 e que a justiça russa ordenou que fosse dissolvida no final de 2021, algumas semanas antes do ataque à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, noticia a AFP.

A homenagem tem decorrido junto a um monumento às vítimas da repressão soviética, situado em frente à Lubyanka, mas a Memorial anunciou, no entanto, que as autoridades tinham proibido a manifestação e o local esteve rodeado de vedações metálicas e com uma forte presença policial.

Por ter sido proibida de realizar a cerimónia em frente da Lubyanka, a ONG Memorial organizou a leitura dos nomes em locais simbólicos da capital, como antigas moradas de vítimas da repressão, cemitérios e em frente de uma prisão.

Oleg Orlov e Svetlana Gannuskina, dirigentes da Associação Memorial, proibida pelas autoridades judiciais russas em 2021, afirmaram à imprensa russa ser “um absurdo e uma idiotice proibir acções maciças naquele local”. Orlov, um político veterano, já foi multado por ter criticado a invasão da Ucrânia pela Rússia, dois países que se consideraram, durante muito tempo, ‘irmãos de sangue’.

Segundo a ONG Memorial, também vítima de repressão, o país tem atualmente pelo menos 634 presos políticos.

O evento também se realizou noutras cidades russas, como Volgogrado, a antiga Estalinegrado (Sul) e Novosibirsk, na Sibéria, bem como no estrangeiro.

Natália Burikina, habitante dos arredores da capital russa, deslocou-se ao local em memória de familiares.

“Eu e as minhas amigas esforçamo-nos, neste dia de trágicas memórias, para estar aqui presentes e depor flores na Pedra Solovetski. Quando não temos forças, pedimos aos nossos filhos e netos para o fazerem”, narrou a anciã, enfermeira reformada, citada pela imprensa russra.

“O meu pai foi trazido para aqui, para a sede do KGB, e a minha mãe e três filhas, entre as quais eu, foi deportada para o Cazaquistão, acusada de inimiga da pátria. Uma minha irmã de treze anos morreu, por falta de assistência médica, o que ocorria com frequência aos chamados inimigos da pátria. Foi por isso que optei por ser enfermeira”, recordou Burikina.

A homenagem tem lugar numa altura em que alguns setores da sociedade russa lutam por uma reabilitação da imagem do ditador soviético Estaline. Segundo dados recolhidos pela imprensa, existirão atualmente cerca de 110 memoriais a Estaline em toda a Rússia, 95 dos quais surgidos já no tempo do Presidente Putin, tendência que parece aumentar desde a anexação da península da Crimeia, em 2014.

Para além disso, as autoridades branquearam o papel histórico de Estaline – que liderou a URSS de 1922 até à sua morte em 1953 – nos novos manuais de história para os dois últimos anos do ensino secundário.

Estaline é uma figuras que incendeia ânimos e extrema posições e muitos são, na Rússia e fora dela, os que o condenam como um dos piores criminosos da Historia; outros evocam o papel fundamental que assumiu na luta conta o nazismo e as hostes de Adolf Hitler na Segunda Grande Guerra, que fazem dele um símbolo do poder russo.

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Fonte :  Notícias ao Minuto – Última Hora 

 

31 Outubro 2023

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